19 novembro 2011

Gotejos de uma longa Saga

GOTEJOS DE UMA LONGA SAGA

Estive ao longo de século na labuta,
Passei pelos canaviais, senzalas, engenhos,
Suei, sofri, tive muito sangue derramado,
Enfrentei, lutei, batalhei, combati,
Cantei também, dancei, Orei, criei,
Rebelei-me, fugi, refugiei-me, construí Quilombos,
Afora esta Sina ou Destino, quis melhorar meu caminho.
Superei, livrei-me dos grilhões, do tronco, das chicotadas.
Tudo dói, até e ainda hoje no sangue dos meus ancestrais.
Venci... ganhei liberdade maculada, eivada,
Protestei, inconformado fiquei, fico ainda,
Difundi meu ideal, minha verdade, minha saga.
Continuo travando triunfos, ao lado dos Meus,
Almejo liberdade, inclusão, reconhecimento, justiça.
Sonhos com dias de paz, de igualdade, de respeito!
Não pára o tempo, os ideais, a virtude do eterno querer.
Sou a terra, o sangue, a raça, o espírito,
Sou o primogênito dos componentes de uma etnia,
Sou o Negro, do ontem, do hoje, do amanhã, do sempre!
Tenho orgulho da minha cor, existência, história...
Que o Deus, os Deuses, abençoe, abençoem os povos.
Que neste abençoar não haja acepção, distinção.
(RODRIGO CARDOSO. 19.11.11)

22 setembro 2011

Nostalgia


"Eu cresci ouvindo anedotas, clichês e chacotas ... Frustrações ... Sobre amasiar, se casar ... Se entregar seria fraquejar"


Porém...


"nós somos um quadro de Klint ... "O Beijo" para sempre fagulhando em cores... Resistindo a tudo seremos... Dois velhos felizes ... De mãos dadas numa tarde de sol"


 (Te amo - Vanessa da Mata - Disco: Bicicletas, bolos e outras alegrias).


Visando uma nostalgia do dia em que me tornei noivo de surpresa... 13 de agosto...  sábado, véspera do dia dos pais, e do dia do meu aniversário...


Feliz assim por ser então...

11 agosto 2011

Revolução

Já nem me surpreendo negativamente/ não existe fagulha de decepção/ por um acaso acontecimento outro me ocupa/ inexiste culpa aqui, do lado de cá/ já foi dito és responsável por aqui que cativas/ caminharei por outros campos da vida/ flutuarei nos sonhos, nas flores da poesia/ mergulhar intenso em cada algo refletidor de alegria/ não me dói mais, anestesia contra qualquer agonia/ incinerador de sofrimento comprei um/ liquidação na loja da Fé no interior do calejado coração/ perdi parte da pressa, ser feliz mais me interessa/ Sem teoria, fantasia, só Amar e Mudar na música Belchior/ Perdeste a capacidade de me enganar/ Ledo engano teu achar que pode me abalar/ 

12 julho 2011

Estranho estado

Rosto tristonho, nem parece aquele diverso, divertido
Feixes estranhos deixam impressão de estar perdido
Passos demorados, olhar pra baixo, desregulado,
Notei a falta de atenção, jeito torto, embaralhado,
Esses olhos fundos, face sonolenta, desconfigurado.
Vagueza no falar, nada a dizer, quase sempre calado.
Se ao menos soubesse explicar esse seu estado,
Qual a origem desta tosca transfiguração?
Mal na cabeça, no peito, na mente e no coração
Desatino todo, falta de equilíbrio, alucinação
Acha que “E agora José?” lhe reflete a emoção
Que renasça em ti a cor, o tom, o som, a canção

29 junho 2011

ROMANCE "des"encontrado

Estava distraído quando ela passou 
Disse até do desejo de me ter...
Fiquei sem saber um por que ou pra quê
Noutro dia ela disse: era pra ser meu marido,
Olha aí... passei desapercebido de novo pela moça
Porém, se de fronte, nada diria, tímido que sou!
De lá pra cá, um zumbido perturba noite e dia
Ela, a dama, visita os meus sonhos...
Faz florescer um jardim dentro de mim
Andava tristonho, hoje dou bom dia ao dia
Milagre é qualquer bom simplesmente na vida da gente
Pois sim, quando vê-la da próxima vez, vai acontecer...
Por enquanto, sem encontro, mandei um bilhete...
"Sou incapaz de no momento falar do meu sentimento,
Mas Vinícius de Moraes e Tom Jobim escreveram por mim:
ASSIM COMO VIVER SEM TER AMOR NÃO É VIVER
NÃO HÁ VOCÊ SEM MIM, EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ
Parece exagero, mas desde que te conheci passou a ser assim"
Paixão é tormento, te vi na missa, quis logo o casamento
A alma pediu calma, o coração se descontrolou
Beijo roubado no caminho de casa... 
E o final, feliz há de ser... tem que ser

21 junho 2011

Ai se sêsse - Poesia de Amor (Poeta Zé da Luz)

Ai se sêsse

O poeta Zé da Luz, do início do século, escreveu uma poesia porque disseram pra ele que pra falar de amor é necessário um português correto e tal... Aí Zé da Luz escreveu uma poesia chamada "Ai se sêsse" que diz assim...

Se um dia nóis se gostasse;
Se um dia nóis se queresse;
Se nóis dois se impariásse,
Se juntin nóis dois vivesse!
Se juntin nós dois morasse
Se juntin nóis dois drumisse;
Se juntin nóis dois morresse!
Se pro céu nós assubisse,
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué tolíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum eu insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca eu puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nóis dois ficasse
tarvez qui nóis dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
(Zé da Luz - Severino de Andrade Silva, nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965) 

19 maio 2011

Foi sim, pois sim... pois tá

Ontem pensei umas fortes besteiras, foi sim...
Pois sim, pois tá... e hoje não dá pra concertar,
Eu tinha promessas da vida, tudo ruiu, foi sim...
Pois sim, pois tá... será engano, a vida mentiu?
Perdida estava a esperança, solta, doida, foi sim...
Pois sim, pois tá, uma criança me chamou de tio...
De preferência, o íntimo queria referências, foi sim,
Pois sim, abandono intenso de mim já não há...
Alguém me falou que estou doente, estranhei, foi sim
Pois tá, custei de acreditar, fugi, voltei, aceitei
O trem tava mesmo fora dos trilhos e parado, foi sim
Pois sim, refazer o caminho, seguir o rumo, reiniciar
Estrela cadente apareceu, devo ser merecedor, fui sim,
Pois tá, supertição, pedido feito, Fé no Senhor
Havia dantes, tristeza, minimização de mim, foi sim,
Pois sim... meu sorriso brilhou, não sei explicar... 
Conto o caso pra quem um dia perdeu o passo, assim.
Pois tá, há sempre um modo positivo de recomeçar!

21 fevereiro 2011

As sem-razões do amor

    As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


(Carlos Drummond de Andrade)

Amar (Carlos Drummond)

    Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



(Carlos Drummond de Andrade)

26 janeiro 2011

Anjos

Sinto que és um enviado de Deus certamente
Algo da Divindade reside em ti e é perceptível
Mas as vezes me pego confuso, sem entender
Suas múltiplas formas, sua dinâmica, aparições
As vezes te sinto alocado nos humanos ao redor
Noutras parece se misturar ao vento, aos lugares
Por vezes próximo ao perigo avisando algo
Guia meus passos, e me livra do mal sempre
Magnífica invenção do Pai Celeste
Posso notar a presença deles: os Anjos

11 janeiro 2011

O avesso do que pareço

Nem sei medir o peso de certos atos
Me embaraço e me perco volta e meia
Fico confuso com as vozes de casa e do mundo
Dúvidas perseguem, mas sei do certo e do errado
Escolhi ser o que sou, logo devo aceitar ou mudar
Aprender pela dor é pior, bem mais traumático
Sei dos riscos, porém insisto em tropeçar
As quedas deixam diversas marcas e feridas
Cada vez fica pior, cabe apreender...
Sinto que os ciscos me cegam
Sou maior que as pedras no caminho
Dependo de mim e dos outros para mudar
Os outros se mostram bem dispostos que eu
Haverá sofrimento, tormento, agonia
Então o tempo vai dizer o que virá
A vida vai ser o que eu fizer dela!


EU E OUTRO EU, EU MESMO... NOS AMAMOS...

"Amar e mudar as coisas me interessa mais" (BELCHIOR).